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04/FEV -
04FEV
Tudo será ontem, por José Carlos Santos Peres
6h6p34
“Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite...” (Manuel Bandeira)
A noite dorme seus fantasmas pelos desvãos da cidade; a sombra das horas percorre em os lentos as pedras da rua (qualquer rua) sempre nos conduzindo a um mesmo lugar.
Tantos já percorreram um mesmo caminho, e quantos ainda permanecerão tecendo o seu destino de ser e estar até que um dia tudo será ontem.
Serão outras as janelas abrindo novas paisagens; novos traçados na geografia urbana, diferentes sons e ruídos...
Nem mesmo o azul do céu será o mesmo. E não mais estaremos por sobre essas pedras, pelas esquinas que nos são íntimas, como foram um dia ao afiador de facas, ao lambe-lambe espoucando seu farol, o realejo monocórdico sorrindo à donzela em busca do seu recado no bico do periquito da sorte à espera do caixeiro com suas fitas, leques, lenços de seda e alfazemas.
Sem esses cheiros, esse jasmineiro que se desmancha, a chuva que às vezes nos colhe de surpresa nos empurrando às marquises, a brisa que desarruma as folhas soltas brincando de ciranda pelas calçadas.
Um dia tudo será ontem...
Alguns dos que aqui estamos ficaremos gravados nos concretos frios dos bancos das praças, em tabuletas que se deixam ao óxido das ruas definindo um lugar; em alguns registros históricos...
E qual a importância dessas grafias, desses signos cheios de ado e vazios de perspectivas, se tudo será pretérito" />